Caro Professor ,
Alunos da periferia das grandes cidades são alunos pobres. A pobreza, mais uma vez, é acusada de práticas de violência. Tenho trabalhado em escolas da periferia de Curitiba. A primeira vez que entrei em uma dessas escolas, fiquei assustado. A aparência e os modos dos alunos não condiziam nem um pouco com figuras angelicais que povoam o imaginário docente. Assustei-me mais ainda quando comecei a ouvir o que os professores diziam desses jovens: vagabundos, prostitutos, verdadeiros animais. Antes do sinal da entrada, camburões da polícia militar paravam em frente a escola e, com armas na mão, os soldados empurravam os jovens contra a parede como se estivessem em um campo de concentração. "Acham que todo mundo é bandido, professor. Tava trabalhando com o pai até agora!" Na sala de aula, querem viver uma infância que lhes foi subtraída. O único lugar em que podem ser adolescentes e crianças é na sala de aula. Falam bastante, não prestam atenção no professor, não conseguem ler um texto simples. São desajustados para os modelos docentes de outros tempos. Tempos em que a escola não era para eles. Agora, sob a ótica de certos princípios pedagógicos, a escola parece continuar não sendo para eles. Ou melhor, é para eles, desde que não sejam o que são, que se enquadrem nos modelos angelicais de uma escola que quer adaptá-los docilmente a uma dinâmica de mundo que insiste em mantê-los a margem. Quem é violento não são nossos jovens. Violento é nosso país, são nossas instituições. Está mais do que na hora da escola parar de rotular jovens e adolescentes como bandidos e desenvolver projetos educativos em que eles possam, efetivamente, se tornar sujeitos, sujeitos de direito. Os meninos com quem trabalhei e com quem trabalho não têm absolutamente nada de marginais. Devemos ter consciência de que a diferença marca nossas identidades e nos enriquece, como diria talvez Adil; devemos ter consciência também de que a desigualdade deforma. E a briga é junto com essa meninada pela humanização, de alunos e também de professores. É o caminho da escola. Freirianamente, franciscanamente, marxistamente... Abraços.
Sebastião
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