EDIÇÃO nº 1003 e 1004; ano 24; 3ª e 4ª semanas de Janeiro/2010
O Capital em Luta Contra a Lei da Gravidade.
No regime capitalista de produção a lei do valor-trabalho corresponde à lei da gravidade da física. É a essa determinação interna da dinâmica dos ciclos e crises periódicas que os capitalistas procuram neutralizar com
instrumentos políticos, externos ao processo de valorização.
No regime capitalista de produção a lei do valor-trabalho corresponde à lei da gravidade da física. É a essa determinação interna da dinâmica dos ciclos e crises periódicas que os capitalistas procuram neutralizar com
instrumentos políticos, externos ao processo de valorização.
Por, JOSÉ MARTINS
No Japão, segunda maior economia do mundo, não são apenas os preços (e a taxa de lucro) que caem. Caem também os aviões. Melhor dizendo, aviões em forma de capital, em forma de ações das suas gigantes empresas de aviação. Japan Airlines, a maior empresa aérea do Japão (e da Ásia) declarou falência em 19 de Janeiro 2010 (1). É a maior quebra de uma empresa japonesa de fora do setor
financeiro desde a Segunda Guerra Mundial.
Mas, antes que o capital virasse pó e causasse efeitos perigosamente dilacerantes no mercado, a empresa foi providencialmente socorrida pelo governo japonês, tornando-se assim a mais recente empresa estatal do formidável e tão eficiente sistema de livre-mercado capitalista! Vamos então à lição da
semana: como ressuscitar o capital falido? Com muito dinheiro público para as empresas privadas falidas e um ponta-pé na bunda dos trabalhadores - no caso da Japan Airlines, demissão de 15.600 trabalhadores, só para começar.
No Japão, segunda maior economia do mundo, não são apenas os preços (e a taxa de lucro) que caem. Caem também os aviões. Melhor dizendo, aviões em forma de capital, em forma de ações das suas gigantes empresas de aviação. Japan Airlines, a maior empresa aérea do Japão (e da Ásia) declarou falência em 19 de Janeiro 2010 (1). É a maior quebra de uma empresa japonesa de fora do setor
financeiro desde a Segunda Guerra Mundial.
Mas, antes que o capital virasse pó e causasse efeitos perigosamente dilacerantes no mercado, a empresa foi providencialmente socorrida pelo governo japonês, tornando-se assim a mais recente empresa estatal do formidável e tão eficiente sistema de livre-mercado capitalista! Vamos então à lição da
semana: como ressuscitar o capital falido? Com muito dinheiro público para as empresas privadas falidas e um ponta-pé na bunda dos trabalhadores - no caso da Japan Airlines, demissão de 15.600 trabalhadores, só para começar.
IDÉIAS E MATÉRIA – O último período de crise já revelou abundantemente a natureza desse comunismo dos capitalistas – o Estado, essa forma de manifestação de Deus na terra, de que falava Hegel, exercendo sem pudor sua verdadeira função de comitê de negócios da burguesia e de administrador da repressão armada da luta de classes. O movimento real do capital confirma
nossas principais teses. Tudo que se diz do Estado moderno separado dessa natureza essencial não passa de elucubrações filosóficas e acadêmicas procurando esconder sua prática material.
O que interessa verificar neste movimento prático dos capitalistas é um problema central na dinâmica do mercado nos períodos de crise e tentativa de se evitar a tendência catastrófica do sistema: pode-se afirmar (ou negar) com segurança que essas intervenções políticas externas (Estado) são suficientes para
reverter as pressões internas da superprodução de valor e mais-valia? De maneira mais prática: a intervenção do Estado no curso da economia apresenta sempre instrumentos capazes de neutralizar a tendência à queda da taxa de lucro e reinaugurar um novo período de expansão? Os economistas (liberais, keynesianos e marxistas) não têm nenhuma dúvida que isso sempre acontece.
Mas há controvérsias.
O melhor é ser modesto neste assunto que centraliza, mais que em qualquer outro, infinitos pontos de vista (e interesses materiais, por supuesto) das diversas classes sociais do atual regime. As inúmeras concepções ideológicas da forma de existência e das possibilidades de luta das classes sociais, por exemplo,
estão envolvidas neste assunto.
A única coisa certa é que essas indagações nos colocam frente ao problema central da análise das crises e ciclos econômicos: a intervenção política se sobrepõe ao problema econômico? Quem acertar a resposta estará acertando também nas perspectivas da economia mundial daqui até o fim do ano. É na prática do movimento material que se comprova as boas formulações teóricas.
Quem se habilita?
NÚMEROS CRUCIAIS – Uma sucinta atualização do que se passa neste momento com as condições internas da produção de valor e de mais-valor – que nada mais é do que a popular produção industrial – pode ajudar na solução do problema. É aqui que se origina e se desdobra aquela força de gravidade da economia que falamos no início. Os mais recentes números divulgados pelo Federal Reserve (2) sobre a produção industrial norte-americana, divulgados nesta semana, mostram, neste sentido, coisas muito importantes.
Primeiro, a produção de manufaturas (bens duráveis e não-duráveis) da economia reguladora do mercado mundial caiu pesadamente no ano de 2009: exatamente 11,4% sobre 2008, no qual já tinha caído 3,2% sobre 2007. Isso é uma manifestação muito forte da lei do valor-trabalho. Tem que ser levada em conta em qualquer análise que se proponha a um mínimo de seriedade. Não se tem notícia de queda tão profunda da produção de valor, pelo menos nos últimos setenta anos. Pode-se verificar, apesar da precariedade das fontes disponíveis, se em algum ano da Grande Depressão (anos 1930) houve uma queda desta magnitude. Parece que não.
Os dados divulgados no relatório do Fed mostram também que a utilização da capacidade das manufaturas em 2009 ficou na média anual de 66,9. Para se ter idéia, a média da utilização nos últimos trinta anos foi de 79,6. O nível mais baixo anterior (72,7) havia sido no ultimo período de crise (2000-2002). Portanto, outro recorde de queda, no ano passado, muito próximo da catástrofe econômica, quer dizer, de uma crise geral do sistema. Em outro plano da evolução do ciclo, contrapondo-se aos movimentos do ano passado como um todo, os dados mostram que a produção começou a se recuperar no terceiro trimestre de 2009 (aumento de 9,0% em termos anuais). Depois cresceu um pouco menos (5.7%) no quarto trimestre 2009. No mês de Dezembro a produção das manufaturas ficou patinando próxima de zero, embora o setor de
maquinários tenha apresentado o primeiro sinal de recuperação (aumento de 2.3%) depois de um mergulho de quase 20% no ano de 2009. Isso se reflete na taxa de acumulação do capital industrial, medida pelo indicador capacidade industrial do Fed. No quarto trimestre de 2009 essa taxa caiu bombásticos 1,7%,
na seqüência de cinco trimestres seguidos de queda. Nada parecido, mais uma vez, desde a Grande Depressão.
nossas principais teses. Tudo que se diz do Estado moderno separado dessa natureza essencial não passa de elucubrações filosóficas e acadêmicas procurando esconder sua prática material.
O que interessa verificar neste movimento prático dos capitalistas é um problema central na dinâmica do mercado nos períodos de crise e tentativa de se evitar a tendência catastrófica do sistema: pode-se afirmar (ou negar) com segurança que essas intervenções políticas externas (Estado) são suficientes para
reverter as pressões internas da superprodução de valor e mais-valia? De maneira mais prática: a intervenção do Estado no curso da economia apresenta sempre instrumentos capazes de neutralizar a tendência à queda da taxa de lucro e reinaugurar um novo período de expansão? Os economistas (liberais, keynesianos e marxistas) não têm nenhuma dúvida que isso sempre acontece.
Mas há controvérsias.
O melhor é ser modesto neste assunto que centraliza, mais que em qualquer outro, infinitos pontos de vista (e interesses materiais, por supuesto) das diversas classes sociais do atual regime. As inúmeras concepções ideológicas da forma de existência e das possibilidades de luta das classes sociais, por exemplo,
estão envolvidas neste assunto.
A única coisa certa é que essas indagações nos colocam frente ao problema central da análise das crises e ciclos econômicos: a intervenção política se sobrepõe ao problema econômico? Quem acertar a resposta estará acertando também nas perspectivas da economia mundial daqui até o fim do ano. É na prática do movimento material que se comprova as boas formulações teóricas.
Quem se habilita?
NÚMEROS CRUCIAIS – Uma sucinta atualização do que se passa neste momento com as condições internas da produção de valor e de mais-valor – que nada mais é do que a popular produção industrial – pode ajudar na solução do problema. É aqui que se origina e se desdobra aquela força de gravidade da economia que falamos no início. Os mais recentes números divulgados pelo Federal Reserve (2) sobre a produção industrial norte-americana, divulgados nesta semana, mostram, neste sentido, coisas muito importantes.
Primeiro, a produção de manufaturas (bens duráveis e não-duráveis) da economia reguladora do mercado mundial caiu pesadamente no ano de 2009: exatamente 11,4% sobre 2008, no qual já tinha caído 3,2% sobre 2007. Isso é uma manifestação muito forte da lei do valor-trabalho. Tem que ser levada em conta em qualquer análise que se proponha a um mínimo de seriedade. Não se tem notícia de queda tão profunda da produção de valor, pelo menos nos últimos setenta anos. Pode-se verificar, apesar da precariedade das fontes disponíveis, se em algum ano da Grande Depressão (anos 1930) houve uma queda desta magnitude. Parece que não.
Os dados divulgados no relatório do Fed mostram também que a utilização da capacidade das manufaturas em 2009 ficou na média anual de 66,9. Para se ter idéia, a média da utilização nos últimos trinta anos foi de 79,6. O nível mais baixo anterior (72,7) havia sido no ultimo período de crise (2000-2002). Portanto, outro recorde de queda, no ano passado, muito próximo da catástrofe econômica, quer dizer, de uma crise geral do sistema. Em outro plano da evolução do ciclo, contrapondo-se aos movimentos do ano passado como um todo, os dados mostram que a produção começou a se recuperar no terceiro trimestre de 2009 (aumento de 9,0% em termos anuais). Depois cresceu um pouco menos (5.7%) no quarto trimestre 2009. No mês de Dezembro a produção das manufaturas ficou patinando próxima de zero, embora o setor de
maquinários tenha apresentado o primeiro sinal de recuperação (aumento de 2.3%) depois de um mergulho de quase 20% no ano de 2009. Isso se reflete na taxa de acumulação do capital industrial, medida pelo indicador capacidade industrial do Fed. No quarto trimestre de 2009 essa taxa caiu bombásticos 1,7%,
na seqüência de cinco trimestres seguidos de queda. Nada parecido, mais uma vez, desde a Grande Depressão.
PATINANDO EM FINA CAMADA DE GELO – Para concluir esse boletim, uma observação preliminar: embora a economia real mostre sinais claros de recuperação do período de crise, encerrado no terceiro trimestre de 2009, o período de expansão inaugurando um novo ciclo econômico ainda é, aparentemente, muito tímido. A economia global ainda não restaurou a taxa
média de lucro do período de expansão do ciclo anterior. Isso acontece devido àquela enorme derrocada da produção e do emprego no auge da recente crise. A superação dessa queda da força da gravidade do sistema é necessariamente muito penosa, muito mais difícil que em ciclos anteriores.
As condições internas da acumulação, entretanto, indicam que o mais provável é uma recuperação mais forte no decorrer do ano. Mas pode haver surpresas. Isso dependerá de novos aumentos da produtividade (exploração) da força de trabalho, o que verificaremos com dados a serem publicados pelo Departamento do Trabalho dos EUA no começo de Fevereiro.
Dependerá também do saneamento administrativo (Estado) de alguns gargalos financeiros nos EUA e China, principalmente, que ainda restam e que poderiam neutralizar os avanços dos últimos meses do capital na base produtiva de mais-valia (lucro) e jogar a economia em novo e mais profundo mergulho.
Essa perspectiva de um duplo mergulho, entretanto, não é a mais provável.
Nossa torcida para que isso aconteça é a maior do mundo, mas ela não altera em nada aquela indicação anterior do mundo real de que o mais provável é uma consolidação da paz dos cemitérios por mais três ou quatro anos.
Aprofundaremos melhor essa análise nos próximos boletins.
média de lucro do período de expansão do ciclo anterior. Isso acontece devido àquela enorme derrocada da produção e do emprego no auge da recente crise. A superação dessa queda da força da gravidade do sistema é necessariamente muito penosa, muito mais difícil que em ciclos anteriores.
As condições internas da acumulação, entretanto, indicam que o mais provável é uma recuperação mais forte no decorrer do ano. Mas pode haver surpresas. Isso dependerá de novos aumentos da produtividade (exploração) da força de trabalho, o que verificaremos com dados a serem publicados pelo Departamento do Trabalho dos EUA no começo de Fevereiro.
Dependerá também do saneamento administrativo (Estado) de alguns gargalos financeiros nos EUA e China, principalmente, que ainda restam e que poderiam neutralizar os avanços dos últimos meses do capital na base produtiva de mais-valia (lucro) e jogar a economia em novo e mais profundo mergulho.
Essa perspectiva de um duplo mergulho, entretanto, não é a mais provável.
Nossa torcida para que isso aconteça é a maior do mundo, mas ela não altera em nada aquela indicação anterior do mundo real de que o mais provável é uma consolidação da paz dos cemitérios por mais três ou quatro anos.
Aprofundaremos melhor essa análise nos próximos boletins.
(1) “Japan Airlines, a maior companhia aérea do Japão, declara falência. A Japan Airlines (JAL), maior
companhia aérea do continente asiático, endividada e atingida por grandes prejuízos, declarou-se nesta
terça-feira em falência e iniciou um severo plano de resgate que incluirá o corte de cerca de 15.600
postos de trabalho” Agência AFP, 20/janeiro/2010.
companhia aérea do continente asiático, endividada e atingida por grandes prejuízos, declarou-se nesta
terça-feira em falência e iniciou um severo plano de resgate que incluirá o corte de cerca de 15.600
postos de trabalho” Agência AFP, 20/janeiro/2010.
(2) Federal Reserve System – “Industrial Production and Capacity Utilization”- Janeiro, 15, 2010
Para receber semanalmente em seu email análises econômicas como esta que você acabou de ler, assine e divulgue o boletim CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação Popular, S. Paulo.
Em 2010, estamos completando 23 ANOS DE VIDA. Vinte e três anos informando e educando a classe trabalhadora!
ASSINE AGORA A CRÍTICA Ligue agora para (11) 9235 7060 ou (11) 8201 6059 ou passe um e-mail para criticasemanal@uol.com.br e saiba as condições para a assinatura!
Em 2010, estamos completando 23 ANOS DE VIDA. Vinte e três anos informando e educando a classe trabalhadora!
ASSINE AGORA A CRÍTICA Ligue agora para (11) 9235 7060 ou (11) 8201 6059 ou passe um e-mail para criticasemanal@uol.com.br e saiba as condições para a assinatura!
Nenhum comentário:
Postar um comentário